Descubra as causas da queda capilar, como identificar os sinais de alerta e os principais tratamentos com base na tricologia clínica. Leia agora!
A queda capilar é, sem dúvida, uma das queixas mais recorrentes nos consultórios de tricologia. Seja por razões emocionais, hormonais, genéticas ou até mesmo por hábitos diários, a perda de cabelo impacta não apenas a estética, mas também a autoestima e a qualidade de vida de quem convive com esse problema. Por isso, é essencial entender que a queda de cabelo nem sempre é algo simples — e muito menos algo que deve ser tratado com soluções genéricas ou receitas prontas. Cada fio perdido pode estar comunicando algo sobre o corpo como um todo, e é por isso que a abordagem da tricologia vai muito além do couro cabeludo.
Mas, afinal, o que é queda capilar? Existe um número considerado normal de fios que caem diariamente — geralmente entre 50 e 100 fios por dia. Esse processo faz parte do ciclo natural de crescimento do cabelo e, por si só, não representa motivo de preocupação. O problema começa quando há um aumento progressivo e persistente dessa queda, com falhas visíveis, afinamento da densidade ou quando o couro cabeludo começa a ficar exposto em algumas regiões. É importante também diferenciar a queda capilar do afinamento dos fios, já que muitas pessoas confundem os dois processos. A queda está relacionada à perda dos fios inteiros, enquanto o afinamento está ligado à miniaturização — quando o fio nasce cada vez mais fino, curto e fraco, até desaparecer.
Para entender melhor a dinâmica da queda, é fundamental conhecer o ciclo de vida do fio de cabelo. Ele é dividido em três fases principais: anágena, catágena e telógena. A fase anágena é a de crescimento ativo e pode durar de 2 a 6 anos, dependendo de fatores genéticos e hormonais. Em seguida, vem a fase catágena, que é uma fase de transição, curta, em que o crescimento para e o folículo começa a se desprender da papila dérmica. Por fim, temos a fase telógena, que é quando o fio “descansa” e se prepara para cair, dando lugar a um novo fio em crescimento. Em um couro cabeludo saudável, cerca de 85 a 90% dos fios estão em fase anágena, enquanto 10 a 15% estão nas fases catágena ou telógena. Quando há algum desequilíbrio, esse ciclo é interrompido e o número de fios na fase telógena aumenta significativamente, levando à queda acentuada.
Entre as principais causas da queda capilar, as alterações hormonais ocupam um lugar central. Disfunções da tireoide, como hipotireoidismo ou hipertireoidismo, influenciam diretamente o ciclo de crescimento do cabelo. Além disso, a alopecia androgenética — tanto em homens quanto em mulheres — é um dos tipos mais comuns, sendo resultado de predisposição genética e da ação dos hormônios androgênicos nos folículos pilosos.
O estresse emocional é outro fator fortemente relacionado à queda de cabelo. Situações prolongadas de ansiedade, tensão ou choques emocionais podem desencadear o chamado eflúvio telógeno — uma condição temporária em que grande parte dos fios entra precocemente na fase de queda. O corpo, ao lidar com o estresse, redistribui energia para funções vitais, e o crescimento capilar acaba ficando em segundo plano.
As deficiências nutricionais também são gatilhos frequentes. Carência de ferro, zinco, vitamina D, proteínas e complexo B podem comprometer a formação e manutenção de fios saudáveis. Da mesma forma, o uso contínuo de medicamentos como antidepressivos, anticoagulantes, anticoncepcionais ou remédios para pressão alta pode trazer a queda como efeito colateral.
Ciclos biológicos específicos, como o pós-parto e o pós-COVID, também merecem atenção. No pós-parto, a queda é desencadeada pela queda brusca nos níveis hormonais após o nascimento do bebê — algo fisiológico, mas que pode assustar. Já a queda após infecção por COVID-19 tem sido cada vez mais relatada, devido à inflamação sistêmica, febre alta e ao próprio estresse envolvido no processo de recuperação.
Além disso, fatores genéticos podem estar por trás da queda progressiva. A alopecia androgenética, como citado anteriormente, é uma condição hereditária que causa a miniaturização dos fios. Embora mais comum nos homens, ela também afeta muitas mulheres, especialmente após a menopausa.
A queda capilar também pode ser provocada por agressões externas. Procedimentos químicos repetidos, uso excessivo de ferramentas de calor como chapinha e secador, e penteados muito apertados que tracionam os fios (como rabos de cavalo e tranças) podem danificar o folículo e causar queda de cabelo por tração.
Mas como saber quando a queda é realmente preocupante? Alguns sinais devem servir de alerta, como aumento visível de fios no travesseiro, no ralo do chuveiro ou na escova; falhas evidentes em áreas específicas; afinamento generalizado; e coceira, dor ou sensibilidade no couro cabeludo. Observar o próprio corpo e notar mudanças súbitas ou persistentes é o primeiro passo para buscar ajuda especializada.
É aí que entra o papel da tricologia. O diagnóstico da queda capilar precisa ser detalhado e individualizado. A avaliação tricologica analisa não apenas o couro cabeludo, mas também o histórico clínico e hábitos de vida da pessoa. Em alguns casos, exames laboratoriais são solicitados para investigar deficiências, alterações hormonais ou doenças autoimunes. Também pode ser necessário envolver uma equipe multidisciplinar, com dermatologistas, nutricionistas e psicólogos, para uma abordagem completa.
Com base no diagnóstico, o tratamento pode incluir diferentes frentes. As terapias tópicas são bastante utilizadas — loções, tônicos e ativos específicos para estimular o crescimento e fortalecer os fios. Também existem suplementos orais, conhecidos como nutracêuticos, que repõem nutrientes importantes para o ciclo capilar. Quando necessário, medicamentos mais específicos podem ser prescritos. Em consultório, procedimentos como o microagulhamento com ativos, infusões, jato de plasma, luz de LED e alta frequência são usados para estimular a oxigenação, o metabolismo local e a regeneração dos folículos.
A rotina capilar também precisa ser adequada para que o tratamento tenha sucesso. Lavar os cabelos com frequência, escolher produtos corretos para o tipo de couro cabeludo e evitar excesso de resíduos são ações fundamentais. Além disso, cuidados diários como evitar prender o cabelo molhado, escovar com delicadeza e proteger do calor excessivo contribuem para manter os fios saudáveis.
Mais do que isso, é preciso entender que a queda capilar é uma manifestação do organismo como um todo. Por isso, a abordagem integrativa na tricologia é indispensável. Cada paciente é único, e sua história precisa ser ouvida com atenção. Fatores emocionais, comportamentais e sistêmicos devem ser considerados na construção do plano terapêutico.
Muitos mitos ainda cercam o tema. Cortar o cabelo frequentemente, por exemplo, não faz crescer mais rápido — isso é um equívoco. Da mesma forma, lavar o cabelo todos os dias não causa queda, desde que os produtos usados sejam adequados. E prender o cabelo pode, sim, causar queda por tração, especialmente se o hábito for diário e com força excessiva.
A prevenção ainda é o melhor caminho. Alimentação balanceada, ingestão adequada de água, qualidade do sono, controle do estresse e exames de rotina ajudam a manter o ciclo capilar saudável e evitam surpresas desagradáveis. Identificar sinais precocemente também aumenta significativamente as chances de reversão ou controle do quadro.
Buscar um tricologista deve ser uma prioridade assim que a queda começar a interferir no bem-estar emocional ou quando for persistente por mais de 2 a 3 meses. Quanto antes for feita a avaliação, mais eficaz será o tratamento, e maiores são as chances de recuperação completa.
Por fim, cuidar do cabelo é também cuidar de si. O couro cabeludo é uma extensão do nosso organismo e merece atenção especializada. Mais do que estética, tratar a queda capilar é um ato de autoestima, de escuta interna e de saúde integral. Com orientação certa, apoio profissional e uma abordagem humanizada, é possível restaurar não só os fios, mas também a confiança e o bem-estar.